quarta-feira, 26 de junho de 2013

MINHA VIDA GAY

O exercício da resiliência

         
                                 

O que é resiliência e o que tem a ver com a vida gay?


Esse post é dedicado principalmente aos gays enrustidos que objetivam sair do armário: até onde você iria para superar esse obstáculo?

Pelo tempo de vida do Blog MVG, me deparei com algumas dezenas de relatos e comentários de gays que lidam bem com a vida de enrustido. Mas e aqueles que gostariam de sair do armário para ter uma maior autonomia ou ter a simples “paz no coração”?

Resiliência é uma palavra que concentra esforços, perseverança e senso de superação. E essa ideia, normalmente, é aplicada em diversos âmbitos: no trabalho, nas relações familiares, na relação afetiva, entre amigos e em diversas situação nas quais um indivíduo se depara com um problema.

O texto que dá origem a esse post é da Época Negócios: “Até onde você iria para superar um obstáculo“, que conta resumidamente a vida de Charles Chaplin, cujo contexto de infância dramática e de pobreza remava totalmente contra ao que Chaplin se tornou. Em outras palavras, como um cara pobre, de “vida amarga”, infância e juventude sem base, conseguiu se tornar o artista renomado e de obras memoráveis? Seria apenas a influência da sorte? Dos astros? Seria a tal ideia de ter nascido com a “bunda para a lua”?
Geralmente pensamos assim. Quando nos deparamos com pessoas que aparentemente não possuem condições de se superar creditamos à sorte as razões para “se dar bem”. Essa é a nossa “mania” de depositar culpa ou motivos no que é externo, no divino, no maravilhoso mundo de Alice.
Tenho dois casos interessantes do puro exercício de resiliência que deposita grande parte dessa “sorte” no próprio indivíduo.

O primeiro diz respeito a um dos meus primeiros amigos gays. Ontem mesmo falei com ele depois que entrevistei um colega de seu antigo trabalho. Meu amigo, na infância, ajudava a família a catar papelão na rua e passava dias, as vezes, sem um prato de comida. Viveu situações dramáticas as vistas dos olhos dos outros e, em certa medida, carregou alguns traumas por um tempo.
Hoje, o amigo é formado em psicologia, mora junto com uma de suas imãs numa casa “super decente”, e trabalho não lhe falta. Recentemente, pelo Facebook, vi sua comemoração da aquisição de um iPhone novinho.

O outro caso é de outro amigo, heterossexual, que há mais de 4 anos convive com o câncer. Vai e vem, passa por operações, tratamentos e intervenções. Mesmo assim, não desistiu da vida, trabalha com construção e venda de imóveis e continua a se socializar normalmente.

Embora entenda que o pior problema do mundo seja o nosso próprio problema, conviver com essas personalidades – quando o nosso olhar se atenta a esses valores – nos ensina muita coisa. É nessas horas que, mesmo que em instantes, nos permitimos medir realmente a dimensão de nossos problemas.

A vida dentro do armário, para alguns, pode ser sufocante e, normalmente, para quem se sufoca, a vida fora do armário costuma ser amedrontador: temos medo da rejeição, medo do desconhecido, medo de perder a nossa personalidade e medo do preconceito. Muitos medos não é verdade?

O exercício da resiliência nos ensina a exergar a vida de novos ângulos. Queremos uma vida perfeita e harmônica e as vezes nos confundimos quando essa aparente “perfeição e harmonia” se estabelece omitindo a nós mesmos parte de quem somos. Diferente da perfeição e hamornia que se adquire quando lidamos com situações críticas, que nos exige uma postura mais firme ou nos coloca num estado de insegurança. Em outras palavras, o que quero dizer com isso é que a ideia verdadeira de perfeição e harmonia tende a se estabelecer apenas quando encaramos nossos problemas e reconhecemos o sentido de superação.

O texto da revista Época é sobre todos esses valores e apesar do ponto de vista ser de empresários que deram certo (Charles Chaplin não deixa de ser um empreendedor), revela aos gays insatisfeitos com algumas condições atuais de suas vidas como a resiliência pode ajudar a mover para além do que somos hoje.
O dar errado, muitíssimas vezes, é o caminho para dar certo.

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